Esconderijo
Não me agrada a sensação de parecer frágil. Por isso tantas vezes me porto como o colo que consola, a voz que conforta, a mão que afaga. Escuto calmamente cada desabafo que chega a mim, respondo com ou sem meias palavras sempre que convém. Falar ao máximo sobre a dor do outro nada mais é que uma armadura, uma máscara que me protege de falar sobre a minha própria dor, sobre aquilo que me aperta o peito e me faz chorar. Sozinha, no quarto. Eu e meu travesseiro - única testemunha daquilo que eu sinto.
Ser fria, ser aquela que não fala de si, ser aquela que não é inclinada aos sentimentalismos me protege de expor ao mundo o tanto de coisa que bate e machuca aqui dentro.
Infelizmente, isso é insuficiente quando tendo me esconder de mim mesma.
(re)impresso
arrisco um verso
sem métrica meço
o teto, o regresso
peco
num pudor sem porém
sem feitor, um amor
o jogo entretém
um eu que não sou
Sobre nostalgias e recomeços
contragosto
o contrario, o oposto (ao gosto)
me sufoca o rosto
dilacera no outro
um medo quase só
de quase tudo
quase dó
e fá sustenido